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CIDADE EM FATOS

Alfredo Stroessner e a presença paraguaia em Guaratuba

Praça em homenagem ao ex-ditador do país vizinho sempre gerou muita polêmica

Publicado em 20/02/2021 às 01:50
Atualizado em

Placa em homenagem ao Alfredo Stroessner. Registro de 2019. (Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo)

Registro de Fevereiro de 2021 já sem a placa. (Foto: Portal da Cidade)

Praça dos Paraguaios nos dias de hoje (Foto: Portal da Cidade)

Ao lado da praça dos Paraguaios tem uma placa do comando da marinha do Paraguai de 1981 (Foto: Portal da Cidade)

Tradução para Português: à escola de comando e estado-maior da marinha do paraguai à nobre cidade irmã de guaratuba por homenagem ao seu ilustre presidente do exército Don Alfredo Stroessner 1981 (Foto: Portal da Cidade)

Frente da mansão de Alfredo Stroessner (Foto: Portal da Cidade)

Mansão de Alfredo Stroessner no bairro Brejatuba gera curiosidade até os dias de hoje. (Foto: Portal da Cidade)

Entrada da mansão de Alfredo Stroessner (Foto: Portal da Cidade)

Capa do jornal Gazeta do Povo, de 21 de Fevereiro de 1989, falando sobre a chegada de Stroessner em Guaratuba após ter sido deposto no Paraguai, enquanto aguarda resposta do pedido de asilo no Brasil. (Foto: Reprodução Projeto Humanos)

O quadro Cidade em Fatos sempre busca trazer informações interessantes sobre Guaratuba. Muitos fatos são bastante conhecidos dos moradores e podem gerar diversas discussões. Como o caso da Praça General Alfredo Stroessner, a Praça dos Paraguaios.

A Lei 293 de 08/04/1980 denominou o local entre a quadra 207 e o Oceano Atlântico como Praça General Alfredo Stroessner, ditador paraguaio entre 1954 e 1989. A praça foi Inaugurada pelo governador Ney Braga e pelo prefeito Antônio Franco Ferreira da Costa Filho.


Foto: Reprodução / O Globo

O general que governava o país vizinho costumava passar as férias em Guaratuba. No começo, ele frequentava a casa de um amigo e em seguida construiu sua mansão, de 14 cômodos na região.

A presença da autoridade paraguaia na cidade era bem vista por alguns moradores de Guaratuba. Muitos dizem que o ditador trouxe muita coisa boa para a cidade. 

Sem dúvidas, a residência no Brejatuba chama muita a atenção de quem conhece um pouco da história. Inclusive, enquanto a reportagem tirava fotos da residência, vários curiosos passavam pelo local e comentavam sobre o ex-presidente do país vizinho.

A residência ainda está conservada e, segundo pessoas do ramo imobiliário da cidade, pertence ainda aos familiares de Stroessner.


(Veja mais fotos na galeria no início da reportagem arrastando para o lado)

Após sofrer um golpe pelo general Andrés Rodriguez, Stroessner passou 17 anos exilado no Brasil, os primeiros dois meses em Guaratuba. Outros refúgios especulados para o ditador eram Johannesburgo, na África do Sul, Baviera, na Alemanha e a Coreia do Sul. Além de outro país latino-americano, o Chile.

Presença paraguaia em Guaratuba

Além da proximidade geográfica, Guaratuba é muito visitada por paraguaios. Muitos deles por influência direta ou indireta do ex-presidente.

Sem dados oficiais, a presença de turistas do Paraguai é bastante evidente em Guaratuba. Volta e meia é possível observar carros com placas do país vizinho.

O comércio, por exemplo, se prepara bastante para recebê-los durante a temporada de verão.

Segundo representantes da rede hoteleira, dos estrangeiros que visitam Guaratuba, boa parte é paraguaio, seguido pelos argentinos. 

Mansão como centro de tortura

A mansão entrou nas investigações de outro caso muito impactante em Guaratuba, o Caso Evandro. 

Em um depoimento sobre o caso, um dos suspeitos do assassinato, Davi dos Santos Soares, afirmou que foi torturado na mansão pertencente ao ex-ditador paraguaio.

O caso reapareceu nas mídias com o podcast Projeto Humanos, produzido por Ivan Mizanzuk. Você pode conferir os detalhes do caso aqui.

Projeto para mudança de nome

Um projeto da ex-vereadora de Guaratuba, Paulina Muniz (PT), prevê a mudança do nome do local para somente Praça dos Paraguaios.

O texto apresentado pela então vereadora diz: "Toda estátua, praça ou nome de rua é uma homenagem. Como vamos homenagear um homem que foi reconhecidamente um ditador em seu país e que vem sendo acusado (com base em evidências claras) de envolvimento em narcotráfico, perseguição a opositores políticos e, o mais grave, e o fato mais evidenciado: pedofilia.

A intenção da mudança do nome é  criar uma conexão com o povo paraguaio, que historicamente frequenta as praias de Guaratuba e também oficializar o nome popular do local. 

A proposta foi apresentada no dia 20 de julho de 2020 e não foi levada para votação.

A placa em homenagem ao ditador não está mais fixada no local. Porém, uma placa com mensagem do comando da marinha do Paraguai, agradecendo a homenagem ao ex-presidente do país, ainda está no local. (veja na galeria de fotos no início da reportagem arrastando para o lado)

Ditadura Stroessner

Para saber o motivo de tamanha discordância com a homenagem ao ex-presidente do Paraguai, devemos entender um pouco de como foi o seu governo.

Stroessner foi parte ativa na Revolução do Pynandi (pés descalços em guarani), uma guerra civil em 1947.

Em 1954, ele toma o poder através de um golpe de Estado, derrotando Federico Chaves, de seu próprio partido, o Colorado, e é eleito presidente em uma eleição indireta sem oposição.

O general suprimiu garantias constitucionais e iniciou um período de dura repressão contra opositores e controle de partidos político não-alinhados com seu governo.

Ao todo, estima-se que entre 3 e 4 mil pessoas tenham sido assassinadas em seu governo por conta da perseguição política, marcada pelo emprego da tortura, sequestro e assassinatos políticos. O número de presos por motivos de perseguição política passa de 150 mil. De acordo com relatório de 2008 da Comissão de Verdade e Justiça paraguaia foram 18.772 torturados e 3.470 exilados. Além disso, segundo a Coordenadora de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy), 236 crianças e adolescentes foram presas, 17 nasceram na prisão e houve 459 desaparecidos.

Em 2017, o documentário “Calle de Silencio” denunciou que o ditador era, também, um pedófilo. Vítimas dos abusos relataram, depois de 30 anos da derrubada do regime, como eram retiradas do interior do país para servirem a Stroessner.

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