O quadro Cidade em Fatos sempre busca trazer informações interessantes sobre Guaratuba. Muitos fatos são bastante conhecidos dos moradores e podem gerar diversas discussões. Como o caso da Praça General Alfredo Stroessner, a Praça dos Paraguaios.
A Lei 293 de 08/04/1980 denominou o local entre a quadra 207 e o Oceano Atlântico como Praça General Alfredo Stroessner, ditador paraguaio entre 1954 e 1989. A praça foi Inaugurada pelo governador Ney Braga e pelo prefeito Antônio Franco Ferreira da Costa Filho.
Foto: Reprodução / O Globo
O general que governava o país vizinho costumava passar as férias em Guaratuba. No começo, ele frequentava a casa de um amigo e em seguida construiu sua mansão, de 14 cômodos na região.
A presença da autoridade paraguaia na cidade era bem vista por alguns moradores de Guaratuba. Muitos dizem que o ditador trouxe muita coisa boa para a cidade.
Sem dúvidas, a residência no Brejatuba chama muita a atenção de quem conhece um pouco da história. Inclusive, enquanto a reportagem tirava fotos da residência, vários curiosos passavam pelo local e comentavam sobre o ex-presidente do país vizinho.
A residência ainda está conservada e, segundo pessoas do ramo imobiliário da cidade, pertence ainda aos familiares de Stroessner.
(Veja mais fotos na galeria no início da reportagem arrastando para o lado)
Após sofrer um golpe pelo general Andrés Rodriguez, Stroessner passou 17 anos exilado no Brasil, os primeiros dois meses em Guaratuba. Outros refúgios especulados para o ditador eram Johannesburgo, na África do Sul, Baviera, na Alemanha e a Coreia do Sul. Além de outro país latino-americano, o Chile.
Presença paraguaia em Guaratuba
Além da proximidade geográfica, Guaratuba é muito visitada por paraguaios. Muitos deles por influência direta ou indireta do ex-presidente.
Sem dados oficiais, a presença de turistas do Paraguai é bastante evidente em Guaratuba. Volta e meia é possível observar carros com placas do país vizinho.
O comércio, por exemplo, se prepara bastante para recebê-los durante a temporada de verão.
Segundo representantes da rede hoteleira, dos estrangeiros que visitam Guaratuba, boa parte é paraguaio, seguido pelos argentinos.
Mansão como centro de tortura
A mansão entrou nas investigações de outro caso muito impactante em Guaratuba, o Caso Evandro.
Em um depoimento sobre o caso, um dos suspeitos do assassinato, Davi dos Santos Soares, afirmou que foi torturado na mansão pertencente ao ex-ditador paraguaio.
O caso reapareceu nas mídias com o podcast Projeto Humanos, produzido por Ivan Mizanzuk. Você pode conferir os detalhes do caso aqui.
Projeto para mudança de nome
Um projeto da ex-vereadora de Guaratuba, Paulina Muniz (PT), prevê a mudança do nome do local para somente Praça dos Paraguaios.
O texto apresentado pela então vereadora diz: "Toda estátua, praça ou nome de rua é uma homenagem. Como vamos homenagear um homem que foi reconhecidamente um ditador em seu país e que vem sendo acusado (com base em evidências claras) de envolvimento em narcotráfico, perseguição a opositores políticos e, o mais grave, e o fato mais evidenciado: pedofilia.
A intenção da mudança do nome é criar uma conexão com o povo paraguaio, que historicamente frequenta as praias de Guaratuba e também oficializar o nome popular do local.
A proposta foi apresentada no dia 20 de julho de 2020 e não foi levada para votação.
A placa em homenagem ao ditador não está mais fixada no local. Porém, uma placa com mensagem do comando da marinha do Paraguai, agradecendo a homenagem ao ex-presidente do país, ainda está no local. (veja na galeria de fotos no início da reportagem arrastando para o lado)
Ditadura Stroessner
Para saber o motivo de tamanha discordância com a homenagem ao ex-presidente do Paraguai, devemos entender um pouco de como foi o seu governo.
Stroessner foi parte ativa na Revolução do Pynandi (pés descalços em guarani), uma guerra civil em 1947.
Em 1954, ele toma o poder através de um golpe de Estado, derrotando Federico Chaves, de seu próprio partido, o Colorado, e é eleito presidente em uma eleição indireta sem oposição.
O general suprimiu garantias constitucionais e iniciou um período de dura repressão contra opositores e controle de partidos político não-alinhados com seu governo.
Ao todo, estima-se que entre 3 e 4 mil pessoas tenham sido assassinadas em seu governo por conta da perseguição política, marcada pelo emprego da tortura, sequestro e assassinatos políticos. O número de presos por motivos de perseguição política passa de 150 mil. De acordo com relatório de 2008 da Comissão de Verdade e Justiça paraguaia foram 18.772 torturados e 3.470 exilados. Além disso, segundo a Coordenadora de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy), 236 crianças e adolescentes foram presas, 17 nasceram na prisão e houve 459 desaparecidos.
Em 2017, o documentário “Calle de Silencio” denunciou que o ditador era, também, um pedófilo. Vítimas dos abusos relataram, depois de 30 anos da derrubada do regime, como eram retiradas do interior do país para servirem a Stroessner.